Lachlan de Crespigny é o co-fundador e co-CEO da Revelo.
Num ambiente tão concorrido e dinâmico, que é o de contratação de pessoas de tecnologia, a Revelo é um dos principais nomes do mercado, capitaneando esse tema, como um parceiro estratégico das empresas e dos profissionais de diferentes skills.
A Revelo foi co-fundada pelo “Lach”, depois dele ser um estagiário na Gympass e de uma passagem pelo BCG. O empreendedor conheceu o outro co-fundador Lucas Mendes, num MBA em Stanford e criaram a empresa, em 2014. Com mais de 3 mil empresas clientes, mais de R$90 milhões de investimentos recebidos e mais de 1 milhão de candidatos, a Revelo é uma das empresas mais legais da nova geração de startups no Brasil.
O “Lach”, como é conhecido na comunidade tech no Brasil, é australiano e tem uma visão bem importante sobre os desafios de inovação e tecnologia no país.
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Transcrição do episódio
Este episódio foi transcrito e editado com apoio da Conta Simples, conta digital PJ e melhor plataforma brasileira focada em cartões corporativos.
Qual é a dor que você sentia no mercado e o que você fez para resolver o problema?
Lachlan Revelo: Foi uma fase em que eu e o Lucas Mendes estávamos estudando nos Estados Unidos, eu queria fazer qualquer tipo de trabalho relacionado a tecnologia dentro do Brasil. Eu passei meses mandando e-mails, e foi extremamente difícil conseguir isso. Acabei achando um trabalho através de minha esposa, que conhecia o fundador do Gympass. Eu pensei que foi bem mais difícil do que deveria ser e eu dizia ao Lucas que estava tendo um problema exatamente inverso no lado da contratação. Ele estava envolvido com uma empresa que estava tentando contratar desenvolvedores, e nos queixamos de que era muito difícil achar a pessoa certa. Ele viu que não fazia sentido haver um grande número de pessoas qualificadas e, mesmo assim, as empresas terem dificuldades de contratar. Esse foi o insight que nos fez encontrar essa dor.
A Revelo começou com esse modelo que existe hoje ou ela foi mudando conforme o tempo?
Lachlan Revelo: A gente criou o nosso modelo para caber melhor nas demandas do mercado, o modelo que nós começamos foi definido pelo fato de que tínhamos nenhum dinheiro e ninguém sabia de nós. Naquela época, o nome dominante desse mercado era a Catho, e, para sermos bem diferentes deles, criamos esse modelo personalizado, porque a Catho não era utilizada pelos desenvolvedores. Nesse caso, estávamos obrigados a utilizar esse modelo e o ajustamos para seguir melhor os clientes.
Como vocês encaram o modelo de negócio e como ele evoluiu? Hoje quais são os modelos de negócios?
Lachlan Revelo: Vou começar do contexto do que foi o mundo antigo, eu defino mundo antigo o que conhecemos hoje como a Catho, Linkedin e afins. Elas atuam como empresas pagas por um anúncio e, depois, recebem currículos. Basicamente, isso é fazer uso do que já existia na época dos jornais e colocar online. Nós começamos mais profundamente para dar o nível do serviço de uma empresa de recrutamento sendo um head hunter online e sabíamos que todas essas pessoas executavam principalmente trabalhos manuais. Desde o princípio, nós temos feito o que eles faziam offline, porém com uma tecnologia mais rápida e barata. À medida que íamos crescendo, a empresa passou a dar mais valor aos serviços que oferecemos aos nossos candidatos e aos nossos clientes. A forma como fazemos hoje em dia nos torna parceiros de carreira dos candidatos. Conseguimos identificar cursos e habilidades que estão em alta demanda no mercado, financiamos um curso para o candidato que quer estudar essa habilidade e, quando ele termina, ajudamos ele a conseguir um emprego na área de tecnologia. O topo da carreira da maioria das pessoas que trabalham com tecnologia é trabalhar em uma empresa no exterior que paga salários mais altos que muitas empresas brasileiras, nisso ajudamos eles a serem alocados em alguma empresa no exterior e alguns dos nomes mais famosos do ramo mundialmente. Eu gosto de ajudar na formação de talentos, nas promoções que essa pessoa recebe ao longo da carreira e, por fim, chegar à elite do mercado.
Sobre o Linkedin, a monetização dele se dá de outro mecanismo e de uma parte ainda maior, você poderia explicar onde está o posicionamento e a diferença nesse ponto?
Lachlan Revelo: É fato que o Linkedin é gigante, o que é interessante porque o gigante do mercado real é o Indeed, eles são bem maiores que o Linkedin em quase todos os lugares. Sempre soubemos que éramos diferentes do Linkedin, tem gente que nos liga antes mesmo de ligar para a própria mãe para comunicar que conseguiu um novo emprego. Nesse ponto, sabíamos desde o começo que tínhamos essa ligação com o candidato porque você nunca vai ligar para o Linkedin e falar obrigado pelo novo emprego. Agora, essa pergunta se torna bem menos frequente porque sabemos que o Linkedin não está envolvido no financiamento dos cursos dos candidatos para que evoluam em suas carreiras. O Linkedin também não trabalha alocando pessoas para trabalharem no exterior com planos de saúde ou VR e VT aqui no Brasil. Esse nível de profundidade no relacionamento que nós temos com o candidato e o cliente no momento atual é diferente do Linkedin, e as pessoas estão notando isso mais claramente.
Qual o tamanho da Revelo em nível de time, clientes e candidatos?
Lachlan: Nós, da Revelo, trabalhamos com mais de 25 mil empresas com mais de 1 milhão de candidatos que trabalham conosco, temos diariamente centenas de entrevistas de emprego pela nossa plataforma.
Sabemos que o mercado de tecnologia teve mudanças em suas exigências e suas condições, gostaria de saber como vocês enxergam essas mudanças e como se adaptam aos novos desafios e novidades que venham a surgir.
Lachlan: Nos últimos 5 anos, ocorreram muitas mudanças. Agora, as pessoas que conseguem resolver problemas são mais valorizadas em uma função do que as pessoas que são especialistas e não sabem resolver. A dificuldade que muitos profissionais enfrentam hoje é que as demandas das tecnologias ou abordagens que eles precisam entender mudam de forma extremamente rápida. O jeito que nós respondemos foi o grande problema, pois se os candidatos que usam a nossa plataforma não são os candidatos certos que a empresa está à procura, nosso negócio não funciona. Essa foi a razão pela qual, lá atrás, chamamos de Revelo A. Nós decidimos identificar quais são as necessidades de mercado. Com os dados de nossa plataforma, conseguimos ver quais tendências de habilidades que podem ter alta na demanda e começamos a financiar pessoas para se iniciarem nesses cursos de acordo com o perfil de cada um. Daqui para frente, a educação paga será muito presente na vida de quem trabalha com tecnologia, e todos terão que se aprimorar sempre.
Qual é o maior desafio de uma empresa de tecnologia e que tipo de perfil está sendo difícil de contratar? Quais são as tendências que o fundador de startups não conseguiu perceber ainda?
Lachlan: A tendência é uma coisa engraçada, todas seguem uma mesma ordem, em 2015 e 2016, estava todo mundo desesperado por desenvolvedor… As demandas mais fortes, hoje em dia, são data science, que é bem difícil de se achar mundialmente, desenvolvedor mobile, que também é muito difícil. No Brasil, provavelmente, o produto e product design são as que mais têm vagas difíceis de preencher nesse momento. E tem uma demanda grande para profissionais de tecnologia que falam bem o inglês para trabalhar em empresas internacionais.
O que para vocês pode ajudar as empresas a atrair mais talentos e retê-los?
Lachlan: Deve pagar salários de acordo com o mercado, quando se paga muito abaixo do nível de mercado, é muito difícil atrair novos talentos, mas se você paga dentro desse teto, as pessoas ficam satisfeitas. Depois desse ponto, o que é mais importante é entender o que motiva cada desenvolvedor e cada profissional em termos da carreira dele. Vou dar dois exemplos de pessoas que eu vi recentemente. São dois candidatos que tinham uma oportunidade de dobrar os seus salários, a oferta estava na mesa e foi oferecida por outra empresa famosa. Um deles não aceitou a oferta porque tinha um plano de carreira dentro da empresa que estava gostando muito, ele mapeou com o CTO onde queria estar em 2 anos. Estava muito evidente pra ele que conseguiria construir uma grande carreira divertida e interessante onde ele já estava. O outro candidato foi para uma outra oferta, pois tinha interesse em um ramo diferente de tecnologia. Então, não tem uma resposta exata quando se trata do assunto “como reter talentos”. O gerente do time, o CTO e os softwares managers deveriam entender quais são as metas e o que motiva cada pessoa do seu time dentro de suas próprias carreiras, de modo que alinhe isso com cada desenvolvedor para achar oportunidades para eles fazerem isso dentro da empresa que estão atuando.
Quais são os próximos passos da Revelo?
Lachlan Revelo: Com o cenário atual, em tempos de covid e todos trabalhando remotamente, o mercado do emprego é mundial, e isso não ocorre somente com a Revelo, qualquer empresa do mundo serve clientes em qualquer lugar do mundo contratando remotamente. Se é remoto, não importa onde a pessoa está, a gente gosta de ajudar brasileiros a fazer isso com mais facilidade, e estamos vivendo essa realidade do mundo de 2021. Uma outra parte onde gostaríamos de trabalhar mais é ajudando empresas e candidatos a treinarem mais para obter habilidades que são mais adequadas para o mercado. Temos feito isso trabalhando em parceria com empresas do ramo educacional para financiar cursos de acordo com o perfil e aspirações de cada candidato. Eu acredito que essas duas frentes nos torna parceiros de carreira de verdade. Nós já somos a maior fonte do talento técnico dentro do Brasil e queremos continuar fazendo isso. Por mais que a gente consiga ajudar treinando e adicionando habilidades a mais pessoas que querem avançar na carreira. Ajudamos também as pessoas a se direcionarem a vagas mais sênior, independente se for no Brasil ou lá fora, é o melhor para nós, para os nossos clientes e para os usuários.
De acordo com as notícias e os números, sobram vagas e faltam profissionais na área de tecnologia aqui no Brasil. Para vocês, essa falta de mão de obra vai piorar? Sobre os números, essas projeções são reais ou se tratam de vagas para analista de sistemas sênior?
Lachlan: A vantagem de estarmos no Brasil é conseguirmos olhar para os Estados Unidos e deduzir que, nos próximos anos, só tende a ficar mais difícil contratar novos desenvolvedores. Para ter uma noção do quanto é difícil, em São Francisco, o Google manda um limousine para as faculdades para levar os desenvolvedores para uma entrevista com comida e bebida gratuita e, depois, são levados de volta à faculdade no mesmo limousine. Na China, eu conheci um executivo da tecnologia que, à noite, trabalhava na Uber para tentar fazer corrida com desenvolvedores e seduzi-los para convencê-los a trabalharem na empresa que ele estava. Nós estamos no começo da curva da demanda para desenvolvedores, não é por mal, mas quando alguém vê esse volume incrível dos investimentos do Soft Bank, muito desse dinheiro é destinado para a contratação de novos desenvolvedores, dessa maneira, só vai ficar mais difícil. Contudo, eu vejo uma relação muito mais saudável do mercado porque agora uma empresa que quer contratar atua em todas as frentes. As empresas sabem que vão ter que usar a Revelo para contratar, entretanto vão ter que usar indicação interna e terão que pagar para indicar melhor as pessoas que já têm e direcionar as pessoas mais júnior para treinamentos futuros. Eu concordo quando dizem que há uma falta maior dos seniors do que dos júniors, então há a necessidade de se investir no talento atual deles para ficarem mais sênior, mas sei que vai ficar mais difícil para nós nos próximos anos, e isso inclui a tarefa da Revelo de preencher as vagas dos desenvolvedores que existem. Posso dizer que isso não ocorre apenas aqui no Brasil, eu sou da Austrália, e lá está a mesma coisa, assim como na Inglaterra, nos Estados Unidos e no mundo todo.
Lach, o que você fazia antes da Revelo?
Lachlan Revelo: Eu fiz uma breve passagem em um banco de investimento, depois, eu fui trabalhar numa consultoria estratégica, passei alguns anos na Austrália e, depois, me mudei para o Brasil. Por aqui, passei o carnaval e conheci algumas pessoas que trabalhavam com tecnologia, me apaixonei pelo país e decidi ficar. Eu brinco que eu gosto tanto do Brasil que estou fabricando brasileiros em casa, tenho uma filha pequena brasileira. A passagem desse ponto para o mundo da tecnologia foi quando estudei nos Estados Unidos fazendo MBA por lá e, nesse tempo, fiz um summer, que é um estágio em duas empresas diferentes. Uma delas foi o Gympass aqui no Brasil que, na época, eram só 20 pessoas em uma sala, foi o trabalho mais divertido que eu tive em minha vida. O segundo foi nos Estados Unidos, eu tive que trabalhar com os desenvolvedores por lá. Fiz um péssimo trabalho porque não consegui falar na linguagem dos desenvolvedores e nem sabia como lidar com eles, e foi o que me fez aprender a programar já sabendo que habilidade seria mais importante no futuro. Fiz cursos online de programação e, no próximo passo, conversei com meu co-founder e começamos uma empresa juntos.
Como é sua rotina diária de contatos com executivos que pedem para você indicar um CTO?
Lachlan: Eu acho que eu deveria organizar melhor o meu dia, antes de minha filha chegar, eu resolvia tudo com mais horas trabalhadas. Agora, está um pouco mais difícil, pois acordo muito cedo para ter aquele tempo de ler um jornal ou mensagens antes de todo mundo. Em termos de rotina, eu quem organizo meus dias dentro do trabalho, está bem estruturado agora, e a melhor dica que eu vi sobre como organizar um dia de trabalho foi calendário primeiro, to do list segundo, e e-mail no terceiro. Calendário é onde você está passando seu tempo, to do é como você quer passar seu tempo, e e-mail é como outras pessoas querem que você passe o tempo. Então, você deve se preocupar como eles estão alinhados com a sua empresa, e faço isso de um jeito bem estruturado.
Para trabalhar na Revelo, qual é o profissional que você costuma contratar e qual o perfil dessa pessoa?
Lachlan: Há alguns atributos que eu sempre olho para contratar profissionais na Revelo, e isso reflete a fase na qual estamos, temos cerca de 150 pessoas no time, atualmente, e estamos na fase de tentar escalar várias pessoas rapidamente, isso significa que há muito o que melhorar, mas não tem quem o faça. O perfil que procuramos, hoje, é alguém que consiga resolver problemas e trabalhar de uma forma relativamente autônoma, que trabalhe em um nível estratégico e não tenha medo de sujar as mãos. Um gerente puro que não quer executar é o perfil que menos queremos agora porque sempre tem algo para realizar, mas não tem ninguém para fazer, daí entra o gerente que deve ele mesmo executar a tarefa.
Hoje em dia devemos ser mais estratégicos e meter mais a mão na massa, o que torna a gerência mais próxima do chão de fábrica, não é mesmo?
Lachlan Revelo: Com certeza, tinha um CEO de uma empresa aérea na Austrália que, como vocês sabem, foi uma indústria muito difícil e, depois, foi um dos grandes sucessos mundiais, era impressionante como você o via conversando com pessoas servindo bebidas. O tempo inteiro ele queria entender quais eram os problemas e preocupações reais dos passageiros do avião. Seria muito mais fácil para ele ficar em uma cabine separada, degustando seu vinho e não fazer nada, mas ele estava buscando ficar bem por dentro da experiência do usuário. O ponto não é o CEO descer para a loja e para oferecer uma experiência diferente no balcão, o importante é entender quais as dificuldades que atrapalham o cliente ou seu próprio time, e isso dá uma habilidade de discernir mais quando você está focado em coisas que são mais tradicionais, isso é entender as realidades ao invés das coisas como acha que deveriam ser.
Lachlan, quais foram os momentos mais difíceis que você como CEO e founder da Revelo enfrentou?
Lachlan: Nós passamos por fases brutais na empresa, principalmente nos primeiros anos, para se ter ideia, no primeiro ano da empresa, eu nem tinha um visto para trabalhar no Brasil, eu tive que fazer uma jogada com meu sócio, na qual cada vez que eu precisasse assinar um contrato o enviava e ele assinava. Tinha que conversar com meu sócio todos os dias, às 4 da manhã para ele, e às 8 da manhã para mim. O mais difícil foi o fato de que não tínhamos investimento na época, e a empresa sobrevivia com o próprio fluxo de caixa. Se eu não trabalhasse, nada acontecia, então eram 24 horas de prontidão todos os dias. Levantamos um investimento, e foi o contrário do que achamos que seria, porque bateu a maior crise do Brasil com mais de 14 milhões de desempregados, e eu tive que explicar aos meus pares porque ainda queria levantar uma empresa de recrutamento nesse cenário. Isso foi em 2015, e foi bem difícil, porque tínhamos poucos clientes, nosso produto ainda era bem ruim. As coisas mudaram quando chegamos ao ponto de poder oferecer propostas legais para as pessoas, nos primeiros anos, eram trabalhos bem ruins com escritórios e benefícios nada bons. Quando começamos a achar pessoas boas, as dificuldades não pararam, mas mudaram, passando por desafios mais intelectuais.
Produção e conteúdo:
- Alura Cursos online de Tecnologia – https://www.alura.com.br/
- Vindi – https://www.vindi.com.br/
Edição e sonorização: Radiofobia Podcast e Multimídia
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