7ª Temporada,

Luciana Caletti, VP da Glassdoor. A história da Love Mondays.

setembro 24, 2020

Grupo exclusivo ouvintes do Like a Boss: https://t.me/grupolikeaboss.

Formada em direito, Luciana foi para Londres para aprender inglês e fazer um MBA. Durante o curso, Luciana fez uma viagem para o Vale do Silício e entendeu como poderia voltar para o Brasil e criar um negócio digital. Em 2013, fundou a Love Mondays, levantou dinheiro de venture capital e três anos depois, com 30 colaboradores, vendeu sua empresa para a Glassdoor, a principal inspiração da startup.

Fundada em 2007, a Glassdoor é a maior plataforma de reviews de cultura empresarial no mundo. Com 700 colaboradores, captou mais de U$204 milhões e está presente em dezenas de países. Em 2018, foi adquirida por U$1,2 bilhões pela japonesa Recruit Holdings, que também é dona da Indeed.

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Transcrição do episódio

Este episódio foi transcrito e editado com apoio da Conta Simples, conta digital PJ e melhor plataforma brasileira focada em cartões corporativos.

Luciana, como nasceu a Love Mondays? Ela foi criada a partir de uma dor que você queria resolver? 

A Love Mondays nasceu com o propósito de trazer transparência para o mercado de trabalho e ajudar as pessoas a tomar uma boa decisão de carreira. Ela nasceu inspirada no Glassdoor. Vimos esse serviço nos Estados Unidos, mas a gente sentia falta de algo parecido aqui no Brasil e na América Latina. 

A experiência em trabalhar em uma empresa multinacional nos Estados Unidos pode ser diferente de trabalhar numa empresa multinacional no Brasil. Então nós sentimos essa dor, como se as pessoas estivessem tomando decisões de carreira no “escuro”. 

E quando você muda de emprego e entra em outro sem saber como vai ser, se você não gosta do que você encontra na realidade da empresa, já é tarde demais. 

E nada melhor do que saber como é trabalhar em uma empresa através da opinião de seus funcionários. Basicamente, a Love Mondays se trata de uma plataforma em que os funcionários contam suas experiências e, assim, ajudam outras pessoas a entender a cultura e o dia a dia daquela empresa. Depois de 3 anos a Love Mondays acabou sendo comprada pelo Glass Door.

Vocês criaram a Love Mondays com a intenção de vendê-la de maneira tão rápida? 

Somos em 3 co-founders, e como fundadores sempre conversamos sobre isso, caso surgisse uma oportunidade, se toparíamos ou não. E isso vai na linha de levantar investimentos. Eu acho que se você levanta investimentos de venture capital, em algum momento você quer dar um exit. 

Tínhamos a ideia de ter uma fatia menor de uma pizza maior. Sempre topamos essa possibilidade de levantar investimentos e de vender. Acabou sendo uma jornada muito rápida. Como fundadores, eu acho que fez sentido. Fez sentido para todas as partes. Foi um bom timing. Nos sentimos reconhecidos e recompensados pelo tempo que investimos na empresa. Também foi um retorno para os investidores. Eles ficaram satisfeitos e concordaram com o negócio. As estrelas se alinharam e acabou dando certo. Foi uma jornada rápida, mas foi bacana.

Normalmente, o investidor quer ficar mais tempo e ver o negócio ir para o IPO. Vocês tiveram uma conversa dura com os investidores ou eles ajudaram vocês nesse processo?

Não foi uma conversa dura. Eu não diria assim. Eu acho que o bom investidor sabe que os bons empreendedores deixam o negócio fluir na estratégia dos empreendedores. Porque se o empreendedor, em algum momento, perde a motivação, o negócio não vai para frente.

Mas, claro, conversamos sobre isso e achamos que seria um exit bacana para eles e para nós. Não são negociações rápidas… Mas funcionou para todos. 

Luciana, a sua história é inspiradora. A Love Mondays é um verdadeiro case. Se você não tivesse optado em vender a empresa, na sua cabeça, como funcionaria a ideia de concorrer com uma empresa americana (Glassdoor)?

Como eu falei, o Glassdoor sempre foi uma grande inspiração. Tanto que deixamos trabalhos em grandes empresas para começar uma empresa espelhada no Glassdoor. 

Desde o início, quando fizemos 1 ano de Love Mondays, os investidores nos colocaram em contato com o CEO do Glassdoor. Também conversei com diversos CEOs de vários mercados, tanto no Brasil quanto fora, porque precisamos conhecer o ecossistema em que operamos.

Desde o início, o CEO do Glassdoor falou que, em algum momento, ou trabalharíamos juntos ou competiríamos. Eu sempre falei pra ele: se você for entrar na América Latina, eu quero ser a primeira pessoa a saber. Não quero saber por outra pessoa. Sempre que eu viajava até São Francisco, eu marcava um café com ele. Numa dessas, entrei em contato com o Robert, CEO na época, e do nada foi preparada a aquisição, resultando na compra da Love Mondays. A gente sempre foi muito aberto em relação às métricas. Até porque queríamos aprender muito com o Glassdoor. 

Eu perguntava sempre questões de início de negócio e eles davam respostas bem sinceras. Foi uma colaboração bem legal desde o início. Mesmo sendo uma jornada curta, não foi uma decisão difícil.

Depois da aquisição, a jornada de aprendizado para nós foi fantástica. E ainda continuamos a operação por mais 3 anos. Ter acesso a toda a experiência que eles tiveram ajudou a acelerar o nosso aprendizado.

Qual o principal desafio do Glassdoor no Brasil?

Eu acho que aqui no Brasil a gente tem uma legislação trabalhista muito diferente de outros países e isso impacta um pouco na percepção da plataforma, na cultura das pessoas em relação ao trabalho. A plataforma vem com o sonho de ajudar as pessoas a encontrar trabalhos que elas amam por meio do depoimento de outras pessoas. 

Isso aqui no Brasil não é um desafio. As pessoas adoram contar histórias. Tem pessoas que escrevem cartas, textos enormes. As pessoas aqui gostam muito de compartilhar. Vimos isso no início da Love Mondays. Isso é muito bacana para o negócio.

Luciana, vocês têm uma inteligência capaz de validar a existência das pessoas que atuam na plataforma?

Como todo sistema de segurança on-line, existem muitos passos automatizados. Usamos inteligências de diversas fontes para entender se aquela avaliação ou salário necessita ou não da validação de um ser humano. Todo conteúdo que entra na plataforma, seja um review de ambiente de trabalho ou de entrevista, passa por um processo automatizado. Também temos um time antifraude, que lida manualmente com as questões que levantam uma bandeira vermelha. Temos um sistema muito sofisticado e muito sério. Tudo para garantir que o conteúdo na plataforma seja de qualidade. 

Quantos colaboradores já atuaram na plataforma? 

Hoje o Glassdoor tem mais de 700 funcionários no mundo inteiro. No momento da aquisição, a Love Mondays tinha 30 e tantos funcionários e absolutamente todos ficaram após a aquisição. Isso foi muito bacana. Como empreendedores, não perdemos a autonomia, a condição era respeitar as metas e budgets combinados, o resto era com a gente. 

Essa migração foi complexa? Vocês migraram totalmente para o sistema deles. Como isso aconteceu?

Quem já fez migração sabe que não é simples. Foi um longo trabalho. Não foi simples. Aposentamos a plataforma Love Mondays e migramos todo o conteúdo para a plataforma Glassdoor. É sempre um trabalho muito mais complexo do que a gente imagina. 

Foi uma colaboração muito boa entre os times do Brasil e o time de lá. Também aprendemos muito nessa etapa. Foram 9 meses de trabalho intenso para fazer essa migração. A migração teve seus problemas. Mas, no geral, foi uma migração bem sucedida. 

Algumas pessoas reclamam da falta de transparência em relação ao que outras equipes estão fazendo, além de não estarem alinhadas com as estratégias da empresa. Outra reclamação muito frequente diz respeito à falta de um plano de carreira bem definido pela empresa. Mas, em tempos líquidos, em que os funcionários deixam a empresa muito rapidamente, fica difícil criar um mapa e definir o quais cargos as pessoas poderão assumir depois de um tempo.  

Como você, Luciana, enxerga essa questão de transparência e plano de carreira? 

Primeira coisa: você não está sozinho. A falta de comunicação de estratégias e visão, tudo isso tem a ver com a comunicação interna, em vários formatos. Esse é um tema extremamente comum, que se manifesta de diferentes maneiras em diferentes empresas. 

O segundo ponto, plano de carreira, também é comum. Faz parte de uma das 5 maiores reclamações. 

A ideia é comunicar em excesso, principalmente agora, em tempos de trabalho remoto. Precisamos ser evangelistas e contar várias vezes a mesma coisa, usando canais diferentes. Vale a pena, em 30 segundos, falar alguma coisa a respeito de onde estamos indo. Tem gente que prefere ler, tem gente que prefere áudio… use e abuse de todos os canais. 

O trabalho como a gente conhece hoje vai diminuir muito nos próximos anos. Teremos um cenário drástico nos próximos 20 anos. Mas, ainda assim, com relação ao plano de carreira, a cultura do trabalho é um pouco paternalista, os colaboradores ainda esperam que a empresa cuide da carreira deles. Este ainda é um fardo da empresa. É preciso pensar na própria carreira de maneira pró-ativa. 

Uma medida simples que a empresa pode adotar é o mapeamento dos cargos que existiam, dos que poderiam existir num futuro breve, responsabilidades chaves e faixa salarial. 

Acho que essa transparência traz mais tranquilidade para as pessoas. Não é bem um plano de carreira, mas é uma visão importante para guiar as pessoas em suas carreiras. Dar um horizonte de seis meses já pode ajudar muito. 

Luciana, qual é o seu background? O que você fazia antes da Love Mondays? Onde você se formou?

Eu sou de Erechim, interior do Rio Grande do Sul. Estudei Direito na Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Nunca gostei da minha faculdade. Sempre tive o sonho de morar fora. Eu dava aula de inglês desde os 16 anos. Uma semana depois de formada eu realizei meu sonho.

E aí eu descobri que, mesmo depois de mais de 5 anos dando aulas de inglês, eu não sabia falar em inglês. Fui pra Londres e me vi pequena. Mas, enfim, aprendi inglês. Fui pra Londres pra ficar um ano e acabei ficando 10 anos por lá. Trabalhei no Consulado brasileiro. Trabalhei depois com consultoria de gestão. Fiquei quatro anos na consultoria. E aí cansei de viajar. Amava viajar, mas acabei cansando. 

Fiz uma transição de carreira, um MBA em Oxford. Depois fui trabalhar na Johnson & Johnson na Inglaterra, na área de marketing. Eu cuidava da maior marca de consumo da Inglaterra. Foi no MBA que o meu sonho de empreender cresceu. Fizemos uma viagem para o Vale do Silício e eu entendi o que significava o modelo de negócio escalável e me apaixonei por isso, mesmo sem saber nada de startup e tecnologia.

Saí do MBA com uma dívida enorme no banco. Fiz um empréstimo para pagar o curso. Mas depois de 2 anos na Johnson & Johnson eu me estabilizei para começar o meu negócio. 

Qual é a sua função como diretora geral LATAM de uma empresa grande e estruturada?

Meu papel não mudou muito. Eu faço o que um líder faz: ter certeza de que o negócio está indo para o lugar certo e de que as pessoas estão engajadas. Agora o Glassdoor resolveu fechar a presença física na América Latina. As coisas mudaram um pouco. Mas meu papel, no geral, não mudou muito.

Você é uma pessoa super organizada com a sua agenda ou você segue o fluxo dos e-mails?

Eu tento ter equilíbrio. Sempre tento pensar num mundo pré-pandemia. Eu gostava de estar presente. Sou alguém que gosta de estar presente, de tomar um café. É nessas horas que a gente tem insights. Eu passava muito tempo conversando com as pessoas no dia a dia do escritório. Eu tentava priorizar a minha agenda no sentido de listar as atividades que só eu poderia dar conta. 

Você, como líder e diretora geral, busca quais tipos de skills em seus colaboradores. O que você olha bastante?

Desde o início, definimos 3 valores importantes para nós. Nunca foi uma lista exaustiva. Escolhemos 3 pela simplicidade. Primeiro: transparência; ser gente boa, ter boa índole.

O  segundo é ter atitude de dono. Em todo tipo de negócio, mas principalmente em startup, você precisa ter pessoas que pensam como donos, que têm essa atitude de autonomia. Mas essa autonomia precisa vir junto com responsabilidade. 

E o terceiro e último: aprendizado constante. Não saber nunca foi um problema. O problema é você não ter vontade, sangue no olho, garra de aprender. Se ninguém fez antes, vamos atrás, vamos pesquisar, falar com outras pessoas, outras empresas.

Na prática, não é todo mundo que tem cabeça aberta para aprender de verdade, pra mudar preconceitos. Então, acho que essas 3 características são bem importantes pra mim.

Sobre o Like a Boss

O Like A Boss é apresentado por Alura, Caelum e Vindi. Participe também do grupo exclusivo ouvintes do Like a Boss no Telegram.

Produção e conteúdo:

Edição e sonorização: Radiofobia Podcast e Multimídia

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