1ª Temporada,
28 MINS

Thomaz Srougi, CEO do dr. consulta. A democracia da saúde.

novembro 15, 2017

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Filho de médico urologista, Thomaz Srougi é o fundador e CEO do dr. consulta.

Ele fundou a primeira clínica da empresa em 2011, depois de uma carreira sólida no mercado financeiro (inclusive fora do país). O foco do projeto era atender a população de baixa renda, que sofre com a falta de infraestrutura médica no país. Três anos depois, o projeto estava validado e pronto para a nova fase, que era escalar para 45 clínicas pelo país e atender milhares de pessoas ao mesmo tempo.

“SE A GENTE FOR TRATAR INDIVÍDUO NO HOSPITAL, A GENTE JÁ PERDEU. O QUE A GENTE ESTÁ FAZENDO É: CONSTRUINDO TODA ESTRUTURA PARA SE COLOCAR DO LADO DO PACIENTE, DE FORMA CONTINUADA.” Thomaz Srougi

A tese de Thomaz e da cia é priorizar pacientes e médicos, num atendimento de alto nível a um preço acessível, que nunca vimos antes no país. É a verdadeira democracia da saúde.

Num país onde 100 milhões de brasileiros não têm acesso a saúde, o dr. consulta é um dos maiores cases do setor e de empreendedorismo dos últimos anos.

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Richistan, livro citado pelo Thomaz.

Transcrição do episódio

Este episódio foi transcrito e editado com apoio da Conta Simples, conta digital PJ e melhor plataforma brasileira focada em cartões corporativos.

“Se a gente for tratar indivíduos no hospital, a gente já perdeu. O que estamos fazendo  é construir toda uma estrutura para se colocar do lado do paciente, de forma contínua ao longo vida dele, não só fazer um atendimento e acabar a relação. A gente quer proteger as pessoas, se colocar ao lado das pessoas para que elas possam, em alguns casos, envelhecer, mas de forma saudável.”

Like a Boss: Para começar, eu queria que você descrevesse o que é o Dr. Consulta. Quem mora em São Paulo e trabalha com tecnologia, conhece bem. Mas, quem está por fora, em outra cidade, não tem ideia da dimensão e do que vocês estão querendo atacar. Como você define e qual é o serviço que o Dr. Consulta oferece?

Thomaz Srougi: O Dr. Consulta é um companhia de gestão de saúde, desenvolvida em cima de centros médicos proprietários, de alta performance. Nós nos propomos a ajudar as pessoas a envelhecer de forma saudável. Hoje oferecemos consultas, em mais de 56 especialidades, com todos os tipos de especialistas. Todos médicos da Medicina da USP, UNIFESP, os melhores médicos do Brasil.

Oferecemos exames de laboratório, exames de imagens e exames clínicos para subsidiar o diagnóstico médico e procedimentos de baixa complexidade.

Hoje não realizamos cirurgias dentro dos centros médicos, mas realizamos cirurgias em hospitais parceiros. É isso que oferecemos.

Quanto tempo tem o Dr. Consulta?

Ele foi fundado em 2011.

E qual problema você tentou atacar? Você passou por algum problema, para fazer uma consulta, para ter atendimento? A gente quer saber a experiência da fundação da empresa.

Eu venho de uma família de médicos. Pai médico, irmão médico, sempre cresci dentro de hospitais. Participei de muita cirurgia de cachorro, porco. Então eu acompanhei e sei como é sofrida a vida do médico. Por outro lado, o médico trabalha muito e a população não tem atendimento.

Há 7 anos eu descobri que 100 milhões de pessoas não têm acesso à saúde no Brasil. E depois eu descobri que esse é um problema global, não é só aqui. Tem alguma coisa errada nisso.

São 100 milhões de brasileiros que não têm acesso à saúde?

100 milhões de pessoas. 150 milhões de pessoas dependem do SUS, 50 milhões tem plano de saúde. Daqueles que tentam acessar o sistema público de saúde, 100 milhões não conseguem dentro de 12 meses. Dos que conseguem, o acesso é pouco qualificado. E, mesmo quem tem plano de saúde, não conseguem acesso ao médico na hora que precisa.

Então, do ponto de vista logístico, o sistema está completamente desestruturado. E, quando se para entender, o maior desafio que o Brasil tem hoje é o acesso.

E o segundo maior desafio é o custo. Quando você consegue o acesso, o custo é muito caro. O Dr. Consulta se propõe a resolver isso. Queremos levar a melhor medicina do mundo para todos os brasileiros. Não importa renda, idade e sexo, é para todos. Hoje quantificamos riscos e indivíduos e ajudamos essas pessoas a neutralizar esses riscos e viverem da melhor forma possível.

E o que diferencia a forma como vocês trabalham, que eu vejo muito como um marketplace, mas que tem uma estrutura física.

É difícil encaixar a gente na caixinha.

Isso, e me mostra que é um desafio, vocês envolvem espaço físico, marketplace, médicos…

Na verdade, a gente sempre soube que saúde é dados. Não tem como dissociar saúde de coleta e utilização inteligente de dados. Mas sempre soubemos que hoje, no país, não existem provedores qualificados. Seja para permitir a experiência do paciente superior ao que tem hoje, ou para coletar dados e disponibilizar esses dados estruturados.

Então invertemos a lógica, sabíamos que teríamos que montar a companhia de tecnologia e dados. Mas primeiro fomos para a estrutura física, então começamos a montar clínicas. O atendimento era no nível que a gente almejava e começamos então a capturar os dados de maneira estruturada.

Hoje temos uma equipe de inteligência artificial que fica na Califórnia. São 5 engenheiros com um projeto específico. Quando finalizarmos esse projeto vamos para outro.

O Dr. Consulta é difícil de caracterizar. Não é uma empresa só de tecnologia, tem centro médico, tem espaço físico… Tudo que é desenvolvido aqui é muito fácil de ver o impacto nas pessoas, na satisfação, redução de filas, na realização de exames. É algo que outras companhias não oferecem. Na minha visão, todas as companhias têm que ser de tecnologia e dados, independente do que eles façam.

Tem alguns convênios que têm um pouco essa cara, de serem os donos dos hospitais, de clínicas, para ajudar nos custos. Para vocês, faz sentido aumentar a rede física ou querem atacar de outra forma o mercado?

A verticalização, a consolidação é uma tendência na área da saúde. A cadeia de valor da saúde, com exceção dos hospitais, está perdendo dinheiro, os incentivos estão mal alinhados. No nosso caso, já estamos posicionados no lugar correto da cadeia de valor, que é a atenção primária e secundária, ou atenção básica.

Gente é igual carro, uma analogia ruim, mas que é muito fácil de entender o que acontece com as pessoas, olhando o que acontece com os carros. Um carro sai da fábrica com manual previsto de manutenção: 6 meses, 1 ano, 18 meses, óleo, feio, filtro de ar e por aí vai. E tudo isso já é pré-calculado pelos engenheiros com uma previsão de quais peças estão sendo utilizadas no carro, e com uma previsão de desgaste dessas peças.

Ser humano é igual. Nascemos carregando uma carga genética muito específica, que determina o que irá acontecer com a gente, com a nossa saúde, nos próximos anos. A gente interage com o meio ambiente de forma específica. Alguns cuidam mais do corpo, outros menos. Alguns bebem, outros não. Alguns fumam, comem mais ou menos. Isso faz com que a gente desgaste o nosso corpo de maneira diferenciada. Então cada indivíduo tem uma probabilidade de risco de saúde. O risco é a chance de ir parar no hospital.

Então, nos estruturamos para identificar esse risco no nível individual e neutralizar esse risco, fazemos isso através da atenção básica. Se a gente for tratar indivíduos no hospital, a gente já perdeu.  O que estamos fazendo é construir toda uma estrutura para se colocar do lado do paciente, de forma contínua ao longo vida dele, não só fazer um atendimento e acabar a relação. A gente quer proteger as pessoas, se colocar ao lado das pessoas para que elas possam, em alguns casos, envelhecer, mas de forma saudável.

Nosso papel é evitar a hospitalização, então a gente não quer virar hospital. Conseguimos ajudar as pessoas, e o próprio sistema de saúde público e privado, fazendo o que fazemos. O sistema público eu consigo diminuir as filas, e o privado ajudamos a reduzir custos. E a gente não recebe pagamento de plano de saúde. Nos relacionamos diretamente com o paciente – isso é fundamental, porque permite que eu consiga priorizar o paciente.

Tenho controle total sobre o quanto eu quero cobrar, como vou redesenhar os processos e como vou me relacionar com os pacientes. Se eu não priorizar pacientes e médicos, a gente não vai chegar onde queremos chegar. A parte econômica e financeira um dia vem, se a gente priorizar os pacientes e médicos.

Você pode agendar, por um preço fixo. Você paga a consulta e não é como um convênio?

Isso. Não tem taxas, não tem mensalidade, não tem carência. Todos os atendimentos são agendados, seja pelo atendimento, telefone, computador ou celular. Demora menos de um minuto. Você pode escolher o médico, o centro médico, o melhor horário, o local mais conveniente. É tudo muito fácil.

Quando você chega no centro médico é atendido em menos de 1 hora. 95% dos pacientes, de porta a porta, entrada e saída, menos de 1 hora, 57 minutos. Você é recebido por um time na recepção, passa por uma pré-consulta, passa pelo médico e faz uma pós-consulta.

E todos os seus dados são coletados, estruturados e agrupados no portal. Você tem acesso a eles 24 horas por dia, 7 dias por semana. Em qualquer centro médico do Dr. Consulta que for utilizado, usam os mesmos dados e critérios. Não tem repetição de exames.

É curioso como modelo de business, porque a questão de convênio médico é tão naturalizada no país. É interessante que você tenha encontrado, com preços bons, a entrada no mercado de maneira clássica. Você voltou para o modelo de precificação, que muita gente duvidava.

Você só paga quando usa. Prezamos pela transparência, queremos que as pessoas saibam exatamente quanto vão gastar naquele atendimento e nos atendimentos futuros. A transparência total é um dos nossos valores. O que é diferente do hospital.

Você está desde 2011 na empresa. Qual foi o momento ruim ou uma decisão não tão boa que você faria diferente hoje?

O tempo inteiro a gente erra. O importante é não repetir o erro. Mas começamos a investir em tecnologia 2 anos depois da abertura do primeiro centro médico. Por que eu precisava validar o conceito, ver se fazia sentido para as pessoas. E manter o conceito de pé, os recursos eram precários do ponto de vista tecnológico.

E quando vimos que tinha o conceito pronto, em todos os termos, fomos investir em tecnologia. Então eu gostaria de ter começado a investir em tecnologia desde o início. Mas a obsessão pelo foco, começamos só depois. Fez muito sentido, mas hoje temos um banco de dados de 4 anos, e poderia ser de 6 anos. Isso faz diferença.

Você trabalha com médicos, que têm fama em relação ao ego. O desafio do médico é algo muito grande. Trabalhar diretamente com os médicos é um desafio muito grande, em relação a especialidade, horários, ao mundo da medicina?

Sim, os médicos são super ocupados. É difícil encaixar horários porque eles trabalham em dois, três lugares. Mas eles começaram a se interessar por nós, por não precisar alugar um espaço, montar uma clínica e organizar e manter tudo isso. Com a gente é muito mais fácil. Ele chega, está tudo pronto e preparado, ele só atende e vai embora.

Os médicos querem progredir tecnicamente, economicamente, querem fazer parte de uma marca de excelência em sua área e, a maioria deles, quer retribuir e melhorar o entorno, ter um impacto social. Oferecendo isso, tudo funciona. A proposta de valor para o médico é muito específica. O que combinamos com o médico é aquilo que é feito, a transparência está em primeiro lugar e eles tem representatividade e voz nas decisões.

Isso cria uma outra relação com o médico.

Claro. Mas eles chegam desconfiados. Eles são maltratados fora daqui, demoram para se acostumar e perceber que são pacientes e médicos em primeiro lugar. Médico feliz gera paciente feliz. Não tem outro caminho. Já temos 1.500 médicos. Esse mês contratamos 200 novos médicos para o Dr. Consulta.

Mas é claro, o médico precisa gostar de trabalhar, ser produtivo e ser muito bem avaliado, pelos colegas de trabalho e pelos pacientes. Aqui compartilhamos o sucesso. Hoje, alguns médicos aqui dentro da companhia são sócios, investiram na empresa.

E o que você pode falar sobre o futuro da empresa, os próximos passos do Dr. Consulta?

Eu não posso comentar muito o que a gente vai fazer. Vamos continuar fazendo o que a gente tem feito e vamos lançar outros produtos no mercado, principalmente na linha de gestão e risco de saúde.

Qual é o seu background? Você não é médico. O que você fazia antes da empresa e o que você estudou?

Comecei a vida fazendo análise de política macroeconômica e depois fui trabalhar em um banco de investimento. Depois fui morar nos EUA, fiquei 3 anos fazendo MBA e Mestrado em Políticas Públicas na Universidade de Chicago.

Aqui no Brasil eu estudei Administração e Matemática, mas não me formei em matemática. Passei pela Ambev, saí para montar um projeto, mas não deu certo. Era para produzir porta a partir de lixo. Projeto legal, mas não deu certo.

Montei um sourchfound, com mais duas pessoas compramos um pedaço de uma companhia de construção de baixa renda aqui no Brasil. Participei de outras empresas com investimentos, sempre com empresas e pessoas que queriam mudar o Brasil. E depois de 3 anos, resolvi me jogar na área da saúde.

Li um livro sobre os 10% dos americanos mais ricos. E a conclusão é que as pessoas que fazem parte desse grupo entraram no grupo através de eventos de liquidez.

Fica muito claro que os grandes geradores de mudanças, de riqueza, de inovação, que faz os países avançarem são as empresas.

Depois que li esse livro, caiu a ficha que o centro do universo são as pessoas que se organizam através de companhias que oferecem produtos e serviços que mudam a vida das pessoas, são os pagadores de impostos.

Eu adoro desafios e, para mim, não tinha desafio maior do que construir uma companhia que mudasse a vida das pessoas e que contribuísse para que o Brasil realmente chegasse lá.

Quantos funcionários diretos e indiretos trabalham no Dr. Consulta hoje? E como você define seu papel como fundador e CEO da empresa?

O Dr. Consulta tem 2.500 pessoas: 1.500 médicos, 1.000 colaboradores. Eu me vejo muito como facilitador – eu preciso ajudar os meus times a performar. Se eles performam, eu performo. Eu vejo meus times como meus clientes, e eu preciso atender esses clientes. Preciso ser útil para eles.

Quanto mais independentes eles foram, mais bem sucedido eu fui. Meu papel é me tornar inútil aqui dentro, para a companhia perpetuar.

O que você considera importante nas pessoas que contrata, em especial às equipes de líderes e gestores?

Gostamos de pessoas melhores que a gente. Que focam em resultado, não em esforço. Ágil, discreta e que cumpre prazos. Tem senso de dono, se preocupam em entregar a solução. Não confundem esforço com resultado. Trabalham com senso de urgência e estão abertas a aprender, evoluir e que correm riscos. Não importa a idade, compartilhamos responsabilidade e sucesso.

Sobre o Like a Boss

O Like A Boss é apresentado por Alura, Caelum e Vindi. Participe também do grupo exclusivo ouvintes do Like a Boss no Telegram.

 

Produção e conteúdo:

Edição e sonorização: Radiofobia Podcast e Multimídia

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